O engajamento da torta

Desta vez poderia falar de uma pessoa qualquer, certos textos ou artigos são escritos em terceira pessoa para ficar longe do autor, porém desta vez não preciso usar este tipo de artifício porque realmente sou um novato (me nego novamente a falar noob ou beginner) nisto das redes sociais, sou uma anta (por que o português usa tantos animais com adjetivos?) Queria tambem me referir à “nova” palavra ENGAJAR, mais uma manobra dos gurus de internet para inventar o que realmente está inventado.

Tinha uma padaria na cidade de meu pai, o forno era o mais importante, ficava no centro. A fama conseguida ao longo dos anos, concedia certas licenças aos irmãos proprietários. Eram conhecidas as tortas de azeite e açúcar que realmente eram boas, com tempo reparei que as tortas com cobertura de chocolate só apareciam na terça-feira, criança curiosa perguntei para meu primo que adorava a iguaria, a resposta me deixou confuso, surpreso e até indignado.

Nossos amigos padeiros tinham encontrado uma forma de dar saída para as tortas que não eram vendidas no dia anterior, como ficavam duras e secas no final da jornada, não teria como vende-las no dia seguinte, então, cedinho colocavam cobertura de chocolate para deixá-las mais suculentas e desta forma passavam por tortas “do dia”. Questionei ao meu primo sobre se esta prática só funcionou no começo, ele negou, as pessoas perceberam a falcatrua, porém, turistas e desavisados (e meu primo) davam fim ao estoque do gênio do marketing tortil.

O Queco que assim se chamava nosso querido padeiro já era um profissional do engajamento, conseguia vender tortas duras do dia anterior, adicionando outro item e pasmem, como eram de chocolate o preço aumentava. O freguês engajava que era uma maravilha.

E porque nosso querido aragonês contaria as aventuras do Queco? Simples, para mostrar que o 90% do que você ve na internet, são tortas duras, porém, o marketing, as cores, as fotografias, a forma de contá-lo são diferentes. Sabe aquela nova profissão? Produtor de conteúdo? Muitas vezes enxergo o jovem aprendiz que ficava as 4 horas da manhã no forno da ladeira Juan Domingo (agradeço a meu pai pelo dado) cobrindo com chocolate aquela massa seca e pouco suculenta e deixando-a brilhante, apetecível, doce, para um novo público.

Sirva este texto como pequena homenagem ao Angel Peña “El Queco” que deixou este plano semana passada e com quem nunca tive uma conversa, mais um exemplo de pessoas anônimas que podem inspirar outras.