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Da cidadela

  • Foto do escritor: Aragonés Errante
    Aragonés Errante
  • 10 de ago. de 2023
  • 2 min de leitura



Passava pelo centro, mais um dia da minha rotina, deixei o carro na Libero Badaró, não sei porque tenho esse carinho por essa rua, sempre que posso dou uma caminhada até São Bento, vejo aqueles empórios antigos, as escadas que descem para o Vale, paro em uma loja antiga de artigos de escritório na esquina com a São Joao, e volto para passar pela porta do edifico Martinelli, seguia para a praça do Patriarca, olhava para o topo do edifício Matarazzo, sempre quis conhecer o jardim que fica no telhado... Percebi um movimento ao meu redor, uma moça conversava com outra mulher que passava por lá, me aproximei e ouvi como explicava alguma coisa sobre sustentabilidade, ela parecia concentrada, amável, voz suave. Nesse momento levantou a cabeça e me olhou.

Acho que percebeu, fiquei paralisado por aqueles dois olhos verdes, sou daltônico, nunca fui bom com as cores, mas sabia que eram verdes, atravessaram minha alma se é que tenho uma.

Ela correspondeu minha cara de idiota com um pequeno sorriso, segundo soco no estômago, esse tinha me derrubado, estava desorientado, não sabia que fazer.

Sempre me caracterizei pela minha cara de poker, nunca um caubói no velho oeste saberia meu jogo, mas em aquele momento teria perdido até o cavalo. Fiquei olhando, disfarçando para não passar por mais um demente do centro, seu cabelo era preto, cumprido e ondulado no final, estava vestida da mesma cor com uma jaqueta também escura, própria da época do ano. A senhora que estava conversando com ela saiu e como eu estava agindo na velocidade de um jabuti não percebi que ela vinha com um panfleto na minha direção, mais uma vez fiquei imóvel, que estava acontecendo?

Fala alguma coisa inútil, pensei para dentro, soltei um “Oi”, ela continuava sorrindo e cravando aqueles dois meteoros verdes nos meus olhos. Parecia jovem, muito mais que eu, a sua pele parecia de porcelana, lembrei das bonecas que minha mãe colecionava e que me pareciam irreais, agora tinha uma figura perfeita na minha frente e só sabia falar um infame “oi”.

Ela começou a me explicar algo de reciclagem, resíduos e pátios de compostagem, na verdade eu só conseguia seguir o movimento daqueles lábios esculpidos pelo próprio Adam Beane.

Consegui entender o mínimo para fazer duas perguntas das quais já sabia a resposta, mas eu só queria ficar mais tempo escutando aquela voz suave que tinha feito o centro de São Paulo ficar em silêncio. Amavelmente me respondeu e me indicou os pontos onde poderia descartar aqueles móveis que não usamos mais. Parecia uma conversa aleatória mais que temos em nossas vidas, mas para mim estava sendo como escutar a poesia de Facundo Cabral com um vinho na mão.

Ela virou para a mesa onde ficavam mais panfletos e revistas, o terceiro soco chegou em forma de perfume, parecia familiar, mas não o conhecia, exatamente como com ela, quando voltou para continuar me explicando o importante que é a compostagem dos repolhos para o planeta terra, escutei outra pessoa que a chamava: Larissa!

Não teria melhor nome para ela, Larissa, forte no começo doce no final, procurem o significado do nome, do grego: da cidadela (no centro dela a encontrei), linda e adorável, poderia ser um nome mais perfeito para definir aquela pessoa?

 
 
 

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1 comentário


larissagermano46
10 de ago. de 2023

Meu escritor além de me deixar sem palavras só me faz orgulho ❤️

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