A arte da burocracia
- Aragonés Errante
- 28 de mai. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de out. de 2021
Chego no shopping, um funcionário mede a temperatura coporal com um termómetro tipo pistola, o faz no pulso,
34,5 ° diz, e me mostra a tela, faz um gesto indicando que posso entrar mesmo tendo a temperatura de um zumbi procurando cérebros frescos ou um vampiro sedento de sangue.
Ao sair do almoço vou renovar minha carteira de habilitação, me pedem uma lista infinita de documentos que já entreguei as últimas vezes que renovei, comprovante de residência, RG, CPF, certidão de nascimento da minha bisavô. O atendente nem olha os documentos (nem para mim), os coloca em uma pasta e manda pagar o boleto na agência do lado. (Para pagar não precisa muita acrobacia)
Me ligam do banco, acabaram de tentar fazer uma compra com meu cartão no Ceará, mas cómo? Sem senha? Sem número secreto? Sem digital? Nem conheço o Ceará! Preciso ir até a agência, a gerente muito simpática me pede o boletim de ocorrência, o cartão, meu Rg, comprovante de residência, me avisa, o cartão demora 20 dias úteis em chegar e preciso estar em casa para receber ou volta para agência, me explica que é por segurança.... cômico se não fosse trágico!
Com certeza já passaram por centos de situações assim, onde certos processos são fruto do hábito, da costume, da tradição, porque não tem sentido e não sabemos como chegamos nesse ponto mas se é assim é porque deve ser (mucho loco né?)
Sou partidario da globalização, da modernidade, dos avanços, mas também sinto certa saudade de quando ia na cidade de meu pai e as pessoas para saber quem era, me perguntavam qual era o apelido da minha família, ou lembro de quando meu avô vendia um carro ou um terreno e a palavra bastava.
Engraçado, naquela época não existiam bases de dados na nuvem, não tinha reconhecimento do rosto ou da digital, porém um aperto de mão bastava, nossa palavra tinha valor, nossos princípios eram importantes.
Aragonés e se não dava certo? A gente tirava satisfação, ia na casa do cidadão, olhava nos olhos, ou mandava naquele lugar onde nunca não bate o sol e sim, as vezes saíamos na mão.
Hoje entramos com uma solicitação no Procon, uma ação nas pequenas causas, muitas vezes gastamos mais dinheiro e perdemos mais cabelo do que vamos ganhar com o processo e como em muitas outras situações nesta sociedade muitos "embates" se perdem na burocracia e acabam na gaveta de algum funcionário de saco cheio de trabalhar naquela merda de mesa digitando dados que ninguém nunca vai ler.
Quem sabe, nos próximos anos vejamos um comercial de alguma faculdade, anunciando o bacharel em burocracia, mestrado em enrolação documental ou doutorado com a titulação "é assim, fazer o que".
Homem de boa lei tem palavra como rei.